David Bruce Guimaraens é, em grande parte, responsável pelo
sucesso mundial dos jovens Vintage Port nos últimos anos. Administrador
do Grupo Taylor-Fonseca, foi o enólogo autor dos célebres
Fonseca 1994 e Taylor’s 1994, ambos premiados com 100 pontos pela
revista Wine Spectator.
Quem conhece David Bruce Guimaraens não se surpreende pelo seu sucesso.
Apesar da sua juventude, David tem uma formação, um método
e um entusiasmo perfeitamente invulgares. Depois de se formar em Ciências
Aplicadas em Enologia na Universidade de Roseworthy, na Austrália,
regressou a Portugal no princípio dos anos 90 com duas obsessões
particulares ligadas ao Vinho do Porto: as rolhas e a aguardente. Ele próprio
confessa que “quando me interesso por uma coisa, neste caso a rolha,
vou até o último pormenor”.
David vê um grande paralelismo entre o sector da cortiça e
o do Vinho do Porto, “pois ambos começaram mais como comerciantes
que como produtores, estabelecendo o seu centro operativo afastados da
produção. No caso do Vinho do Porto, compravam as uvas no
vale do Douro e elaboravam o vinho em Vila Nova de Gaia; as empresas produtoras
de rolhas, comprando matéria-prima no Alentejo e fabricando as rolhas
em Santa Maria da Feira. Ambos têm uma forte componente de tradição;
começaram trabalhando como intermediários; e têm o
seu centro operativo em Portugal, o que é para mim uma grande vantagem”.
Recém-chegado da Austrália, onde os trabalhos científicos
sobre vedantes eram ponteiros a nível mundial, David confrontou-se
com a realidade de então em Portugal: “A palavra ‘qualidade’ nas
rolhas aplicava-se exclusivamente ao seu aspecto externo; não se
ligava às suas possíveis implicações com o
gosto do vinho. O mesmo sucedia na nossa empresa (Grupo Taylor’s),
onde unicamente se faziam análises sensoriais para detectar eventuais
bolores.”
“Ajudados por uma técnica do nosso Laboratório especializada
em Microbiologia, desenvolvemos um programa com duas vertentes: efectuar análises
sensoriais e análises microbiológicas. No meu raciocínio,
a qualidade da rolha tem mais a ver com a matéria-prima, e não
tanto com estratégias comerciais”.
Assim não estranha que David Gimaraens dedique grande parte do seu
tempo e esforço ao mundo das rolhas, escolhendo directamente os
seus fornecedores e trabalhando em conjunto com eles, definindo as quantidades
e as datas de recolha, especialmente nas rolhas de cortiça capsuladas
que representam 98% do seu consumo – mais de 8 milhões de
unidades por ano. Para os seus vinhos topo de gama, os Vintage, David não
considera outro vedante que não seja a rolha de cortiça: “a
rolha faz parte do envelhecimento do vinho e o vintage tem que envelhecer.”
David é de opinião que o mundo da cortiça, assim como
o do Vinho do Porto, experimentou um extraordinário desenvolvimento
nos últimos cinco anos, em que muito tem sido feito: “O problema é que
hoje falta perspectiva e tempo para reflectir sobre os grandes avanços,
tanto na rolha, como nos vinhos que ainda estão por beber. Se continuar
este ritmo, não tenho dúvida de que a situação
melhorará imenso nos próximos anos; mas deve haver uma maior
proximidade entre o sector das rolhas e os produtores da cortiça,
como tem acontecido a nós enólogos com as vinhas.”
David está convicto de que há de facto uma oscilação
de ano para ano nas qualidades das rolhas, como a há nas colheitas
do vinho, de acordo com estudos internos que tem efectuado, chegando inclusive
a ter apresentado os resultados aos profissionais da cortiça.
E já finalizando, David exprime um desejo particular: “Portugal
deve recuperar a Junta Nacional do Sobreiro, para que proteja a cortiça,
da mesma maneira que o Instituto do Vinho do Porto zela pela sua matéria-prima!”
Convém, mesmo assim, esclarecer que, na actualidade, embora não
exista a dita organização, o Estado português e várias
entidades oficiais – como, por exemplo, a Direcção
Geral das Florestas – protegem activamente os montados de sobro.
(Esta entrevista foi conduzida por Alfredo Hervías y Mendizábal.)