texto tirado e adaptado de (http://www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp?
iArtigo=1754&iLingua=1)
Numa época em que na Europa já não existem áreas
naturais virgens, o conceito de região de interesse ecológico
está intimamente ligado à relação sustentada que ao longo dos séculos as populações locais conseguiram
manter com os recursos naturais existentes. Neste contexto, a interpretação
da Natureza é sobretudo a análise da acção humana
sobre o meio envolvente, que modificou irremediavelmente o habitat, mas que
em alguns casos permitiu um reequilibro natural. Estes ecossistemas, resultado
da adaptação da Natureza à acção humana, revestem-se hoje de grande interesse ecológico e antropológico
e a sua correcta interpretação permitem a criação
de actividades de Educação Ambiental e Ecoturismo.
A Serra de Grândola e a Lagoa de Santo André inscrevem-se claramente
neste tipo de ecossistemas. A realização de percursos pedestres é uma
forma de mostrar o valor ambiental destes ecossistemas do Litoral
Alentejano.
A serra e a lagoa,
o montado e o sapal,
a fauna e a flora, o Homem e os recursos naturais: temas para vir ver e viver
ao vivo.
A SERRA DE GRÂNDOLA
A Serra de Grândola localiza-se no Alentejo Litoral, nos Concelhos
de Santiago do Cacém e Grândola, com uma orientação
Nordeste/Sudoeste e uma altitude máxima de 325 m. Surge como uma ilha
de relevo por
contraste com a planície envolvente, que devido à proximidade
do mar cria condições ecológicas específicas.
O seu clima de influência Atlântica, é mais moderado do
que o do Alentejo Central, para o qual a serra constitui uma barreira à passagem
das massas de ar carregadas de humidade que vêm do mar. Devido às
diferenças de temperatura e precipitação, a vegetação
da Serra de Grândola apresenta características próprias.
Toda a serra se encontra coberta de sobreiros, que há muito representam
a principal fonte de rendimento local.
Densos sobreirais estendem-se por vales e encostas,
sob os quais se desenvolve um matagal mediterrânico
riquíssimo. De destacar o aparecimento do Carvalho-português
(Quercus faginea) junto às linhas de água, o que revela a influência
atlântica no clima. Aqui desenvolve-se uma densa vegetação ripícola,
habitat de diversas espécies de aves e mamíferos.
No topo da
serra encontramos as aldeias de Santa Margarida e São
Francisco. Aqui a paisagem altera-se. Os densos sobreirais transformam-se
em montados mais abertos, surgem pequenos olivais,
e nos planos surgem clareiras com rebanhos de
ovelhas ou alguma cultura semeada. A primeira característica
destas aldeias a que chamamos a atenção é a sua pequena
dimensão. Tradicionalmente o povoamento era disperso. A exploração
da terra assenta na
extracção da cortiça
e pecuária.
A LAGOA DE SANTO ANDRÉ
Localiza-se no Concelho de Santiago do Cacém, entre a Costa de Santo
André e o sopé da
Serra de Grândola, e tem uma superfície
média de 170 hectares, que pode atingir cerca de 360 hectares no Inverno.
Trata-se de uma zona húmida costeira de importância nacional
oficialmente declarada como “Zona de Protecção Especial” e
pertencente quase na totalidade, ao Instituto da Conservação
da Natureza. Este sistema lagunar é um
importante “reservatório” de
diversidade biológica, consequência directa da confluência
de meios marinho, dulçaquícola e
terrestre.
É ainda um ponto importante de passagem e nidificação para diversas aves migratórias.
Na Lagoa de Santo André encontram-se inventariadas 106 espécies
de aves aquáticas e 112 espécies de aves terrestres. Na lagoa
já foram observadas 4 das 10 espécies de aves consideradas “em
perigo” no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal: o Abetouro (Botaurus
stellaris), a Cegonha-negra (Ciconia nigra), o Caimão (Porphyrio porphyrio)
e a Águia-pesqueira (Pandion haliaetus).
A principal actividade económica relacionada com a Lagoa é a
pesca tradicional. A pesca incide principalmente
sobre a Enguia (Anguilla anguilla), o Linguado (Solea sp.) e o Robalo (Dicentrarchus
labrax). A pesca tradicional é feita com nassas, que são redes
com armações circulares
em forma de funil,
por onde o peixe entra e é capturado.
Todos os anos em Março “a lagoa vai ao mar” num ciclo
que se repete, permitindo o renovo das águas e a entrada de peixe “novo”. É este
trabalho do Homem, que permite que a lagoa não se feche no seu processo
natural de assoreamento.
Chegados da serra, não existe nada melhor
que um recompensador lanche à beira da Lagoa de Santo André,
onde recuperamos energias enquanto observamos o recolher das aves aos seus pousos de
fim de dia. Bem vindos ao Litoral Alentejano.
Acesso de Lisboa: A2 (Km 101), Saída Grândola; IP8 direcção
Sines. Tempo total de viagem, 1h 5 min.
Recomenda-se: Percurso pedestre ou de BTT, com saída de Santa Margarida
da Serra.
Mais informações: luisnsilva@mail.telepac.pt