Evolução histórica da indústria corticeira

texto tirado e adaptado de http://www.naturlink.pt/canais/Artigo.asp?iArtigo=11152&i
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Quando se fala no incremento das exportações portuguesas, damos-lhe a conhecer o produto onde Portugal é líder mundial: a cortiça. Como se caracteriza este sector? Qual a sua importância económica? Quais as principais utilizações derivadas da cortiça?
Alexandra Fonseca Marques, GEGREN – Instituto Superior de Agronomia

 

Evolução histórica da industria corticeira

As referências históricas à cortiça como produto de exportação para o Reino Unido e para a Flandres remontam ao século XIV, utilizada principalmente na construção de flutuadores dos aparelhos de pesca. Durante este período, os povoamentos de sobreiro foram alvo de leis que proibiam o seu corte e restringiam a sua exploração, o que, no entanto, não impediu a redução drástica da área ocupada pela espécie no nosso País. No século XVIII, o aparecimento, em Portugal, da rolha de cortiça para o engarrafamento de vinhos e a publicação do primeiro compêndio de subericultura contribuíram para a valorização dos montados de sobro e da cortiça.

A indústria rolheira em Portugal surgiu em meados do século XIX, inicialmente com pequenas instalações dedicadas ao fabrico manual de rolhas cilíndricas, distribuídas especialmente no Sul do País. Após a 1ª Guerra Mundial, assistiu-se a um grande desenvolvimento da indústria corticeira, com um incremento que chegou aos 10.000 operários por volta de 1930, o que contribuiu para que Portugal assegurasse a liderança da produção mundial de cortiça. O processo de transformação industrial da cortiça ocorria essencialmente no estrangeiro, em países como os E.U.A., no entanto várias empresas detinham representações no nosso País para a compra da matéria-prima.

Actualmente, o nosso País mantém a liderança na produção de cortiça, apresentando uma produção média anual de cerca de 185 mil toneladas, que corresponde a 54% do total mundial, seguido da Espanha com 88 mil toneladas (26%) e da Itália com 20 mil (6%). Portugal detém ainda a maior capacidade industrial e empresarial do mundo para a transformação da cortiça e exportação dos produtos derivados já transformados, contrariando a tendência de exportação da cortiça em prancha, que caracterizou o início da actividade corticeira em Portugal. Assim, nosso País transforma cerca de 70% da produção mundial, incluindo uma percentagem substancial de cortiça originária de Espanha. A transformação média anual de cortiça ronda as 150 mil toneladas, das quais se exportam cerca de 120 mil toneladas.

Organização actual do sector industrial corticeiro

O desenvolvimento da indústria transformadora de cortiça em Portugal teve lugar em Silves, Évora e Azambuja, e posteriormente no distrito de Setúbal e de Aveiro onde se fixou especialmente a indústria rolheira. Este último distrito é o que apresenta actualmente maior número de trabalhadores no sector, cerca de 11 mil, que constituem 73,33% dos 15 mil trabalhadores do sector a nível nacional, seguido de Setúbal (com 2.722 trabalhadores), Faro (com 546) e Évora (com 275). Os trabalhadores da indústria corticeira correspondem a 25% do volume total de emprego no sector florestal.

O processamento industrial da cortiça está dividido em 4 sub-sectores, que comportam cerca de 1.100 estabelecimentos fabrisdistribuídos por todo o país. O sub-sector preparador, localizado essencialmente na zona sul do país, comporta cerca de 50 unidades fabris de pequenas dimensões (até 20 operários). O sub-sector transformador é o mais representativo, com cerca de 92% dos estabelecimentos fabris, também com o predomínio de unidades de pequena e média dimensão (até 100 operários). O granulador e aglomerador comportam cerca de 30 estabelecimentos, com predomínio de unidades com média dimensão.

Utilizações e aplicações da cortiça

Desde a sua origem, a indústria da cortiça está associada à comercialização de vinhos, o que justifica que a rolha (actividade transformadora) seja a principal produção do sector (com cerca de 61% dos produtos fabricados). Ressalta-se ainda que cerca de 80% da cortiça produzida mundialmente é transformada na Península Ibérica, cabendo mais de 50% a Portugal.Os desperdícios da produção de rolha constituem a matéria-prima dos aglomerados (33%) e dos granulados (3%).

Os produtos derivados da cortiça têm várias utilizações. Ressalta-se que a cortiça natural é utilizada essencialmente na vedação de recipientes, pelo que as outras utilizações recorrem aos granulados e aglomerados puros ou compostos. O principal sector consumidor dos produtos de cortiça é o sector vinícola (cerca de 60%), seguido da construção civil (com 15%) e do sector automóvel (11%).

Os produtos derivados da cortiça destinam-se, na sua grande maioria, aos mercados externos, registando-se volumes de exportação da ordem dos 90%, dos quais 75% são referentes às rolhas.

A exportação destes produtos corresponde a cerca de 3% do total das exportações nacionais. Os principais mercados de exportação são a França, Alemanha, Espanha, Itália, Reino Unido, e mais recentemente, Austrália, África do Sul, que são grandes produtores de vinhos de qualidade.

Assiste-se actualmente a uma reorganização de todo o sector, com vista a integrar medidas de controlo de qualidade da produção e dos sistemas produtivos, como o Código Internacional das Práticas Rolheiras – CIPR, destinadas a fazer face às exigências de certificação por parte das caves importadoras de rolhas e à “ameaça” desencadeada pelo aparecimento de produtos sintéticos alternativos. Estas medidas pretendem assegurar a competitividade e liderança do sector nos mercados internacionais

Consumir produtos de cortiça assegura a preservação de um importante ecossistema e contribui para o fomento da indústria nacional.


Alexandra Fonseca Marques (alexmarques@isa.utl.pt)